"Programa Grassroots aumenta o fair-play e as boas relações entre as equipas da AFA"

“O programa Grassroots aumenta o fair-play e as boas relações entre as diferentes equipas da AFA. Deveria ser implementado em todas as associações a nível nacional”. Pela forma como Rodrigo Gamelas, coordenador do futebol de 7 e de 9 do SC Alba, fala do projeto idealizado pela FIFA, ao qual a Associação de Futebol de Aveiro (AFA) se associou, facilmente se percebem as vantagens de um programa de grande relevância, também, na deteção e retenção de jovens talentos pelos clubes aveirenses.

A ideia que serve de base ao programa Grassroots visa a promoção de oportunidades de prática desportiva adequadas a populações de todas as idades e condições, bem como a promoção e desenvolvimento das modalidades em que o mesmo é aplicado. “No Alba, até aos benjamins B, todos os atletas devem jogar o mesmo tempo, independentemente do resultado. Olhamos para o tempo de jogo como de usufruto do futebol e de diversão”, explica Rodrigo Gamelas, comprovando que o clube de Albergaria-a-Velha leva estes fundamentos bem a sério.

Inspirada nos ideais defendidos no programa Grassroots, a AFA, em colaboração com os clubes, organiza encontros, semanais e mensais, nos escalões de petizes, traquinas e benjamins B, todos com um enquadramento lúdico-desportivo. “Ao retirar a carga competitiva e dando a possibilidade de os atletas se desenvolverem nos escalões adequados ao seu desempenho, isto é ótimo para eles. Noutras circunstâncias, desistiriam do futebol. Assim, acabam por encontrar a ambição que lhes permite jogar e serem felizes”, explica Leonardo Santos, coordenador técnico geral do GD São Roque, com Paulo Moreira, seu homólogo no NEGE, a acrescentar que “a forma como a competição se desenvolve, a um nível informal e lúdico, faz com que as crianças se desenvolvam nestas idades de uma forma muito mais saudável, jogando o jogo pelo jogo”.

Em 2023/2024, a AFA prevê juntar mais de cinco mil atletas nestes encontros, um aumento de cerca de 20% relativamente à temporada anterior. Quase 400 equipas vão a jogo, em eventos sem resultados nem classificações e que envolvem cerca de 880 diretores pedagógicos. “Temos, por exemplo, como diretores pedagógicos uns sete ou oito pais. Envolvê-los desde estas idades faz com que, mais tarde, olhem para o futebol de maneira diferente”, acredita Leonardo Santos.

O cariz lúdico dos encontros é uma mais-valia importante do projeto, crê José Medeiros, coordenador para o futsal do SC Beira-Mar, para quem, “sem resultados, as coisas são mais saudáveis e o crescimento é mais sustentado”. “Todos saem a ganhar”, vinca, uma ideia com a qual Pedro Soares, coordenador da ACR Vale de Cambra, concorda: “As crianças podem, com alguma regra, começar a brincar, a praticar desporto e a desenvolver a sua coordenação motora. Isso é essencial, sobretudo, nos momentos que se vivem hoje, em que elas passam muito tempo isoladas, fechadas em casa. Afastá-las dos ecrãs é essencial”.

Puxando a fita atrás alguns anos, Paulo Moreira ainda recorda o último campeonato formal que disputou enquanto treinador no escalão de traquinas A, em 2019, garantindo não querer “voltar a passar por aquilo outra vez” pelas “expetativas que os pais e até as próprias crianças criam”.

Ao livrarem-se das amarras dos pontos e dos objetivos classificativos, clubes e jogadores atingem um estado de “pureza” desportiva, assim o definem alguns dos treinadores da ACR Saavedra Guedes, de acordo com Justino Maia, coordenador do clube. “Só pelos miúdos irem na carrinha e chegarem ao balneário, situações pelas quais nunca tinham passado”, exemplifica, com José Medeiros a complementar: “Isso coloca-os numa posição de convívio, de compromisso e numa atividade construtiva, a sentirem o que é a competitividade salutar”.

O programa Grassroots tem ajudado os clubes, também, na captação e retenção de jovens atletas, facto de extrema importância para o crescimento e consolidação do futsal e do futebol no distrito de Aveiro. “Quanto maior for a base da pirâmide, para nós, clube, é muito importante. Até mesmo para a AFA”, defende Justino Maia, ideia com a qual José Medeiros concorda. “Os clubes começam a descobrir talentos mais cedo, formando-os na direção que pretendem. É importante para o crescimento e a sustentabilidade das próprias modalidades”, sente o coordenador para o futsal do SC Beira-Mar.

Resumindo, “ao nível técnico-pedagógico, (a implementação do programa Grassroots) está a correr muito bem no distrito de Aveiro”, diz Paulo Moreira, que elogia “a supervisão e o feedback” dados pela AFA neste contexto. No entanto, o coordenador técnico do NEGE assinala um aspeto no qual é necessário trabalhar: “Na bancada, uma série de agentes desportivos ligados ao 'scouting' utilizam estes encontros para fazerem abordagens agressivas aos pais, passando por cima dos próprios regulamentos da AFA. Isso cria falsas expetativas nos encarregados de educação sobre atletas até 6 anos, o que compromete o trabalho dos clubes de formação. É o grande 'handicap' neste momento”.

Fotografia
Associação de Futebol de Aveiro

13 de Janeiro de 2024
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