O jogo dos negócios de sucesso fora das quatro linhas

São o exemplo de que o empreendedorismo também pode ser uma ferramenta para quem joga futebol e procura uma alternativa à carreira desportiva. Três jogadores do distrito de Aveiro apostam nos seus próprios negócios, com investimentos que dão frutos em diferentes áreas, e explicam como surgiu a vontade de enveredar por um mundo em que o lucro é como o saldo positivo das vitórias nos relvados.

José Carlos Ferreira, Edu Pinheiro e Gustavo Magalhães têm em comum o facto de serem jogadores de futebol e agentes ativos no mundo dos negócios. O que muda é a área de atuação de cada um. Não são pioneiros, é certo, mas são o exemplo de que jogar à bola não é um impedimento para pensar noutros voos.

Recentemente, o futebol nacional viu um dos seus jogadores profissionais colocar um fim à sua carreira em detrimento dos negócios que criou. Caetano, jogador que foi internacional pelas seleções jovens, começou a carreira na formação do FC Porto e jogou ainda por Paços de Ferreira, Gil Vicente, Penafiel, Desportivo das Aves e, por fim, no Varzim. O médio revelou que, após aconselhamento com a sua família, não teve dificuldades em tomar uma decisão que o leva a dedicar-se totalmente aos seus investimentos fora do futebol, numa empresa que gere ginásios e campos de padel, estando ainda ligado ao ramo imobiliário. “Sempre fui empreendedor e desde cedo comecei a criar os meus negócios. Os jogadores de futebol têm muito tempo livre e eu aproveitei-o”, disse o ex-jogador, ao Jornal de Notícias.

Para José Carlos Ferreira, conhecido no futebol por Zé Carlos, a aventura no mundo dos negócios foi alavancada pela experiência familiar. O fundador da Flograde, que deu também o nome ao clube de futebol criado há seis anos, é administrador da sua empresa de cortiça desde 2008. O defesa, que alinha na equipa que compete na 1.ª Divisão Distrital, trabalha no ramo desde os 16 anos. Nessa altura, “tinha o sonho de ser jogador profissional”, mas viu-se obrigado a encontrar um caminho paralelo ao do futebol.



“O negócio da cortiça já vem dos meus avós e do meu pai. Além disso, a família do meu sogro sempre trabalhou na cortiça. Assim, eu e a minha esposa criámos a Florgrade, depois de analisar a minha situação no futebol. Aos 19 anos, quando estava no União de Lamas, que disputava a 2.ª Liga, sofri uma lesão grave e com as dificuldades de recuperação nos três anos seguintes percebi que não ia conseguir alcançar o patamar que desejava”, conta.

Zé Carlos aproveitou os conhecimentos e a experiência adquirida da área da cortiça para criar a Florgrade. “Sou muito ambicioso e queria ter uma vida boa. O meu pai já tinha a empresa e nós queríamos diferenciar-nos para não competirmos com as empresas da família. Desde o início correu tudo bem. Começámos a especializa-nos em rolhas do tipo bartop, que são, entre muitos exemplos, para garrafas de Vodka, Whisky ou Gin”, explica, salientando a ajuda da família no crescimento da empresa. “O nosso forte é qualidade das rolhas. É nisso que sempre apostamos, bem como nos testes sensoriais aos materiais utilizados. Estamos preparados para fornecer o nosso produto ao mais lato nível. Para isso muito tem contribuído o meu pai, que me ajuda na escolha e na compra da cortiça, e o meu sogro, ligado à exploração da cortiça e à venda de rolhas”, afirma.

Aos 37 anos, Zé Carlos garante que entre o futebol e a cortiça há diferentes objetivos, mas diz-se satisfeito por conseguir fazer a ponte entre os dois mundos. “O futebol não deixa de ser uma grande paixão, mas a minha vida é a cortiça. Felizmente, consigo juntar ambas as coisas, porque o objetivo do clube de futebol é promover a imagem da cortiça. Oferecemos sempre lembranças aos nossos adversários feitas em cortiça, e a nossa indumentária de saída para os jogos tem produtos em cortiça, como mochilas, bonés e sapatilhas”, refere.

Uma tradição de família que exige responsabilidade
Também Edu Pinheiro “herdou” da sua família o envolvimento num negócio de grande estatuto, a Montecampo, uma empresa com 48 anos reconhecida pela produção e comercialização de mochilas, tendas de campismo, entre outros. O jogador, natural de São João da Madeira, alinha pelo Sporting B e até tem o curso de gestão “congelado”, mas não deixou de se envolver no projeto familiar, assumindo a coordenação da gestão das redes sociais.

“Eu e a minha irmã, que está na área do design, somos de uma geração mais jovem e estamos a implementar novas ideias para que a Montecampo seja ainda mais falada. Já tínhamos o produto, faltava promovê-lo melhor no mundo digital. O meu avô tinha passado essa pasta ao meu pai, a nossa vontade foi ajudá-lo neste negócio”, refere.



O médio, de 23 anos, lembra que, quando tudo começou, “o desafio foi enorme”, considerando que “é entusiasmante gerir as redes sociais” da marca. “No início, tinha um pouco de receio e senti alguma pressão por se tratar de uma empresa que é reconhecida há muito tempo e que conquistou um estatuto importante na sua área. Estamos a investir mais em ferramentas tecnológicas para promovermos os nossos produtos. Por exemplo, há três anos, a empresa não tinha perfil no Instagram nem no Facebook”, afirma.

O jogador da equipa B leonina admite que vislumbrou “algumas dificuldades durante a pandemia, devido ao abrandamento económico”, e assume que espera, um dia, dedicar-se por completo à Montecampo. “O meu sonho é continuar a ser jogador de futebol, mas este trabalho paralelo é motivante e ocupa-me a mente. Depois, tenciono acabar o meu curso de gestão, porque sei bem que a carreira de futebolista é curta, e quando tudo isso acabar o principal objetivo é estar por inteiro na empresa”, sublinha.

“Foi das melhores decisões que tomei na vida”
Gustavo Magalhães é um defesa central experiente que agora veste a camisola da AD Ovarense, no Campeonato SABSEG. É também em terras “vareiras” que o jogador tem o seu negócio, um gabinete de fisioterapia. Desde que concluiu o curso, o jogador ambicionava ter uma atividade própria na área, e foi com o nascimento do filho, em 2018, que se deu o clique para seguir em frente. “Quando o meu filho nasceu, deparei-me com uma realidade difícil, porque jogava, trabalhava e estava muito tempo fora de casa. Precisava de fazer o meu próprio horário e de gerir o meu tempo para poder estar mais tempo com a família”, conta.

O jogador, de 32 anos, revela que não pretendia embarcar na aventura dos negócios “sem acumular experiência”, mas assume que “estar no futebol ajuda a angariar clientes, porque são mais de duas décadas a criar laços com muita gente”. “Há malta que jogou comigo que me pede ajuda em algumas ocasiões. Além disso, o facto de estar envolvido no basquetebol da Ovarense também é algo que ajuda ao negócio, mas só entrei nisto sozinho depois de ganhar experiência e ‘meter as mãos na massa’, fazendo ainda formações para ganhar outros conhecimentos”, sublinha.



Gustavo recorda que não teve “grandes dificuldades em criar o negócio devido a um apoio do Estado”, conseguindo investir menos do que era expetável. “Apesar disso, teve de haver um bom planeamento para começar. Felizmente, encontrei um espaço no centro de Ovar, com boas acessibilidades, o que também tem sido uma vantagem, porque muitas das vezes o melhor marketing para um negócio é passar a palavra. Alguns clientes aparecem porque lhes falaram sobre o gabinete”, conta.

Depois de ter trabalhado durante quase oito anos em diferentes clínicas, Gustavo Magalhães teve de enfrentar as vicissitudes da pandemia de Covid-19. “Deixei de trabalhar durante um mês e meio no primeiro confinamento, mas tudo foi melhorando. Depois, tive uma pequena quebra no final do ano. No global, o balanço é mais negativo do que positivo, porque há alguns pacientes que não vão ao gabinete porque têm medo, o que é compreensível”, explica, acrescentando que sempre o fascinou “a ligação da fisioterapia ao desporto”. “Tinha de me agarrar a alguma coisa para além do futebol, mas até se juntou o útil ao agradável, porque sei que tenho alguns proveitos a nível profissional devido ao meu percurso como jogador”, conclui.

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13 de Fevereiro de 2021
Vítor Hugo Carmo
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