Campeonato Grande Hotel de Luso: Entre consagrados e surpresas numa edição atípica

É inegável. A pandemia do novo coronavírus tem tido um impacto assinalável no desenrolar da atual edição do Campeonato Grande Hotel de Luso. Numa prova de âmbito distrital, os muitos jogos adiados nesta primeira metade da fase inicial da prova têm um peso significativo na classificação de algumas equipas, acreditam os treinadores Nelson Costa, comentador habitual da competição na AFA TV, Ricardo Dias e André Graça. Para o trio, há surpresas, confirmações e também deceções, numa temporada peculiar, cujo futuro é difícil de prognosticar.

O novo formato desenhado para a atual edição do principal campeonato de futsal masculino da Associação de Futebol de Aveiro dividiu a prova em duas zonas geográficas, norte e sul. “Coletivamente, os destaques – mas não surpresas – naturais vão para os líderes de cada uma delas, PARC e Beira-Ria. As duas equipas, que à partida para o campeonato já eram apontadas como duas das principais candidatas à subida, aliam pontos a boas exibições, sendo as responsáveis por algumas das jogadas mais vistosas, até agora”, salienta Nelson Costa, que foca a pontaria do GD Beira-Ria, “o melhor ataque das duas séries com uns impressionantes 34 golos apontados em seis jogos”, mas também a sua solidez defensiva. “Com 12 golos sofridos, só é igualada pelo Cucujães e superada pelo Lusitânia de Lourosa, ambas da zona Norte, esta última com oito golos sofridos, mas apenas três jogos realizados. Os lusitanistas são, aliás, a única equipa só com vitórias”, comenta.

Para além de PARC e Lusitânia de Lourosa FC, Ricardo Dias junta à lista de destaques na zona Norte o CD Cucujães e a ACR Vale de Cambra, que “também está dentro dos possíveis candidatos a andar lá em cima”, acredita o treinador. A maior desilusão tem sido, até ao momento, o CD Arrifanense, que, apesar de ter dado “sinais de recuperação, com duas vitórias seguidas, ainda sofre pelo mau arranque”, analisa Nelson Costa.



Mais a sul, e para lá do ascendente do GD Beira-Ria, há uma equipa a surpreender neste início de temporada. Estreante no Campeonato Grande Hotel de Luso, a AD Arsenal de Canelas, “mesmo não estando a fazer uma primeira volta totalmente regular, tem surpreendido algumas equipas” refere André Graça, que elogia uma equipa “muito forte nas transições”, na qual, mais do que uma ou outra individualidade, “é o coletivo que tem sobressaído”. “Depois há o Beira-Ria e a ARCA, equipas com bons valores e alguma estabilidade nos plantéis, aos quais foi sendo acrescentada qualidade. São os casos do Borralho e do Fábio Lopes no Beira-Ria, e do (Luís) Miguel, do Ventura ou, agora, do Nando Lara na ARCA. São mais confirmações do que surpresas”, completa o técnico.

Consagrados e não só em destaque
Apontando baterias aos craques, há uns que têm brilhado mais do que outros. “Borralho, um ‘velho conhecido’ das competições aveirenses, responsável por 16 dos 34 golos apontados pelo Beira-Ria” esta época, tem sido uma das figuras do campeonato, anota Nelson Costa, que junta os nomes de Luís Miguel Matos (ARCA), “o motor e também melhor marcador da equipa de Águeda”, Diogo Costa (PARC), “um desequilibrador, que leva seis golos e é o melhor marcador da zona Norte, juntamente com Vasco, do Arada, outro dos destaques individuais”, e Marco Leite (CD Cucujães), “o guarda-redes e um dos baluartes da boa organização defensiva do Cucujães, vice-líder e segunda melhor defesa da zona Norte, com 12 golos sofridos”.



Netto (ADREP) e Diogo Andrade (CRECUS), “ambos com oito golos apontados”, ou Salvaterra (Lourosa), que “leva quatro golos e várias assistências nos três jogos disputados pelo Lourosa”, são outras das figuras elencadas pelo comentador da AFA TV, uma lista completada a norte por Ricardo Dias, que lhe junta Messi, “um elemento fundamental no CD Cucujães”, Pipokah, “que tem créditos mais do que dados e que tem sido importante na ACR Vale de Cambra”, e Marquito, “que dá muita experiência” ao CD Arrifanense. A sul, André Graça destaca nomes como Joni Rodriguez e António Ruela (AD Arsenal de Canelas), Marcelo (CRECUS), Carlitos, “que mesmo uns furos abaixo ainda é o desta do Esgueira”, Wallace (AC Luso), Simão e Miguel Martins (FC Barcouço).

Jogar ao ritmo da pandemia
Numa época singular quanto a que vivemos, o peso da pandemia do novo coronavírus no rendimento das equipas é significativo, defendem os comentadores. “Começa logo pelo treino”, cujas condicionantes resultantes da existência de casos positivos de Covid-19 no plantel “vão limitar sempre o jogo jogado, porque as coisas não vão sair como deveriam”, defende Ricardo Dias.

“É inegável o peso que a pandemia está a ter, e terá, no rendimento das equipas”, acrescenta Nelson Costa, que fala numa “desvirtuação do espírito de uma prova pensada para ser de ‘resistência’, como uma maratona, mas que para muitas equipas será, isso sim, uma prova de 200/400 metros ou meio-fundo”. Tudo devido ao constante adiamento de jogos, que fizeram, por exemplo, com que “Lourosa e Telhadela, no final da 8.ª jornada, contem apenas três jogos realizados, metade dos dois primeiros classificados”, exemplifica.

O reagendamento dos encontros pode ter consequências severas em equipas amadoras, prossegue André Graça, atual treinador do CCDR Covão do Lobo na 2.ª Divisão Nacional, que conhece bem a realidade do futsal distrital, onde trabalhou várias épocas. “Sei que há muitos jogadores que vão conseguindo adaptar os horários de trabalho quase semanalmente para poderem ir aos jogos. Se a uma ou duas horas do jogo ele é cancelado e alterado para um dia em que alguns jogadores não possam ir, por não poderem ajustar o horário no trabalho, algumas equipas ressentem-se e isso pode fazer a diferença nos resultados e na classificação”, explica.

A única solução para superar as contingências atuais passa pela rápida adaptação à realidade. Ela vive-se de jogos disputados em pavilhões despidos de adeptos, o que “limita a questão do jogo”, acredita Ricardo Dias. “O futsal já começa a ter algum público, comparado com há alguns anos, e os jogadores dão muita importância a isso. O jogo parece que está muito sozinho”, sustenta.

Ritmo vai baixar na retoma
Com o regresso do Campeonato Grande Hotel de Luso a aproximar-se – a expetativa é que isso aconteça no fim de semana de 9 e 10 de janeiro – há cuidados a ter para uma retoma segura. “Uma paragem destas vai ter as suas consequências quando começarem os jogos”, avisa Ricardo Dias, que prevê que “o ritmo vai baixar novamente e os primeiros jogos vão ser um bocado atípicos, algo que se vai refletir nos resultados e na classificação”.



André Graça vai mais longe e fala de “duas pré-épocas numa só temporada”, caso raro, que obrigará a uma “maior capacidade de superação e de adaptação” de todos intervenientes, completa Nelson Costa. Para o comentador da AFA TV, “um plantel de qualidade e, preferencialmente, vasto em opções, e uma pontinha de sorte para ‘fugir’ às lesões e infetados” ajudará na definição dos finalistas da prova. “Arrisco dizer que os três atuais primeiros classificados de cada zona são os principais favoritos a assim terminarem a primeira fase, garantindo um lugar no apuramento do campeão, não apenas pela classificação atual, mas também pelo rendimento apresentado até ao momento”, analisa, considerando que “a principal dúvida estará, eventualmente, na equipa que se juntará a Beira-Ria e ARCA, na zona Sul”. “CRECUS, ADREP e Barcouço seguem todas com dez pontos, o Arsenal de Canelas tem menos dois, e qualquer uma poderá terminar no 3.º lugar”, remata.

Resta saber o que o futuro nos reserva quanto à evolução da pandemia do novo coronavírus no nosso país. “A maior dúvida neste momento é se estamos a trabalhar para jogar ou para se tornar a adiar tudo”, confessa André Graça, que considera “sensata” a decisão da AFA em suspender os campeonatos entre novembro e janeiro, pois “estamos numa altura em que um jogo, por muito importante que seja, não o é mais do que a saúde”. “Sobretudo a nível distrital, na maior parte dos casos não é o treino ou jogo que vai pagar contas”, completa, ciente, ainda assim, de que “é difícil agradar a toda a gente” numa situação como esta.

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1 de Janeiro de 2020
Rui Santos
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