O trabalho das bolas paradas nos distritais
Dando continuidade à minha colaboração com esta excelente e revolucionária plataforma da AFATV, em prol da divulgação e do desenvolvimento do futebol e do futsal distrital de Aveiro, começo com uma primeira referência ao ponto de situação classificativo do campeonato distrital de futsal. Cumpridas que estão as primeiras quatro jornadas, os meus maiores destaques vão obviamente para os desempenhos das equipas do CCDR Covão do Lobo e do Dínamo Sanjoanense.

A primeira equipa, por ser a única que continua invicta, tendo vencido todos os seus jogos disputados, tendo inclusive passado com distinção no duro teste que teve na última jornada, frente à fortemente reforçada equipa do CD Arrifanense. A segunda, porque tem vencido os confrontos com as equipas que teoricamente estarão mais equiparadas, e pela réplica dada também no reduto de outra equipa fortemente reforçada, a do SC Silvalde. A mim, parece fazer sentido atribuir, para já, à equipa do Dínamo Sanjoanense o estatuto de maior surpresa na competição.Bem sei que estamos ainda numa fase muita prematura do campeonato, em que todas as equipas estão a fazer reajustamentos ao trabalho técnico e tático desenvolvido e preconizado na fase pré-competitiva, face aos resultados globais que vão obtendo até à data, mas esta competição está a ter um desenrolar consentâneo com os vaticínios iniciais, e compete às equipas menos cotadas, teoricamente, trabalharem forte para contrariar e inverter estas desvantagens teóricas.

O tema que vou abordar genericamente neste artigo é a abordagem ao trabalho das bolas paradas, concretamente ao nível das reposições laterais em zona ofensiva, aos livres e aos cantos, na realidade da frequência de treino das equipas que competem no distrital, que na maioria delas se resume a duas sessões de treino semanais, sendo que dessas, poucas são as que dispõe de mais de sessenta minutos por cada sessão. Essa condicionante leva a deduzir que seguramente serão investidos poucos períodos de tempo nessa componente tática, o que explica em parte o baixo índice de aproveitamento com êxito desse tipo de situações de jogo, bem como o elevado índice de situações sem possibilidade de finalização. Isto é, a jogada definida não ser terminada sequer com tentativa de finalização, redundando até, em grande parte das situações, em perdas de bola e consequentes contra-ataques das equipas adversárias. 

Considero que cada treinador deve aportar às suas equipas a capacidade de poder tirar proveito desse tipo de situações, mas de forma eficiente e o mais eficaz possível, e não só porque sim, ou eventualmente até só porque têm algum receio de serem estigmatizados e rotulados pelo facto de as suas equipas não exibirem nem executarem constantemente de forma trabalhada esse tipo de lances nos seus jogos. Entendo até que é preferível, concretamente em situações de cantos e reposições laterais, alternar a execução mais elaborada e complexa, com definições simples ou até como formas de saírem a jogar para voltar aos momentos de ataque posicional/organizado.

Procurar elevados níveis de eficiência e eficácia nos lances de bola parada num jogo, obviamente que deverá estar suportado num forte trabalho prévio nas sessões de treino, quer no período pré-competitivo, quer nos microciclos semanais que antecedem os respetivos jogos. Num contexto de trabalho de baixa frequência de treino semanal, a minha proposta vai no sentido de optar por um nível de complexidade médio/baixo, de menos exigência cognitiva, no sentido de ser claro para todos os jogadores do grupo de trabalho, procurando por exemplo para um similar posicionamento inicial dos jogadores várias opções de entrada de bola, em coerência com a movimentação coletiva pré-definida, delegando no jogador que executa a decisão de percecionar qual o momento em que foi conseguida a vantagem sobre o adversário, para endossar a bola para finalização, gerindo essa decisão dentro dos quatro segundos regulamentares que tem para decidir.

Em termos de implicações na metodologia de treino a utilizar neste contexto de baixa frequência, a minha proposta vai no sentido de um aproveitamento muito otimizado das sessões de treino, preferencialmente a última antes do jogo oficial, utilizando por exemplo os respetivos períodos iniciais chamados de ativação geral, para a execução sem oposição das varias situações preconizadas. Depois, nas partes principais da sessão, utilizar a situação de jogo formal condicionado, utilizando, por exemplo, como uma das condicionantes, a execução de todas as reposições que forem surgindo nesse exercício com jogo, à bola parada que se pretende trabalhar. Por exemplo, para trabalhar os cantos, todas as bolas fora, ou no meio campo ofensivo ou até mesmo em qualquer parte do campo, serem sempre repostas com a marcação de cantos, em coerência com as opções pré-definidas e trabalhadas.

Reafirmo que reconheço ser muito complicado e muito limitador treinar o que se pretende jogar, em contextos de baixa frequência de treino semanal, mas é sempre possível otimizar as sessões de treino, direcionando o trabalho para o aperfeiçoamento da assimilação e interpretação dos princípios de jogo, que se pretendam implementar no modelo e forma de jogar das respetivas equipas.

Jorge Garrido
Treinador de futsal

11 de Novembro de 2016
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