Espetacularidade ou racionalidade
Há mais empates e menos golos nos 45 jogos das 5 primeiras jornadas do Campeonato Safina, comparativamente às edições anteriores. Quem vê os jogos apercebe-se que, pelo menos por enquanto, a eficácia racional domina a estratégia das equipas em desfavor da criatividade e do volume de jogo. O maior equilíbrio – a maior competitividade aparente – será inimigo da espetacularidade?

Comecemos pelos números. Com os 45 jogos já disputados (5 jornadas) há um registo de 18 empates e 85 golos. Em percentagem, verificaram-se empates em 40% dos jogos e os golos ficam-se pela média de 1,88 por jogo.

Nos três campeonatos anteriores, disputados de acordo com o atual quadro competitivo, nos 45 jogos iniciais registaram-se empates em apenas 7 jogos (há um ano,15,7%), em 15 jogos (há dois anos) e em 11 jogos (há três anos). Golos? 130 (média de 2,88 golos por jogo), 106 e 105 (2,33 por jogo), respetivamente há um, dois e três anos.

Organização coletiva e aproveitar o erro

Os números refletem bem como tem sido difícil vencer: no atual Campeonato Safina, apenas 27 jogos em 45 terminaram com vitória de um dos opositores. As equipas procuram apresentar-se, regra geral, sólidas, com linhas próximas, reagindo de forma rápida à perda da bola, procurando primeiramente dificultar a organização ofensiva contrária e jogando depois no erro adversário – fator que tem contado muito para a construção de alguns resultados.

Há, por enquanto, pouca continuidade na construção e são escassas as equipas que procuram ligar o seu jogo entre a primeira e a segunda fase de construção sempre que o opositor ‘encaixa’ – com reflexos na qualidade de jogo, indefinido em vários momentos. Estrategicamente (pensamos) as equipas evitam riscos. E quando não se medem os riscos (opositores próximos na marcação de um livre e tentativa do Paivense em sair a jogar) sucede como no primeiro golo do União de Lamas, com o mérito da jogada ter sido extremamente bem finalizada.

Aliás, o União de Lamas exemplifica na perfeição o que escrevemos. Primeiramente é uma equipa experiente, focada e determinada, competitivamente e a nível coletivo (vontade relacional e tático) mais forte que na última época. Pragmática sim, mas com princípios presentes no seu jogo.

Defensivamente revela-se mais sólida, interpretando essencialmente melhor as coberturas e o equilíbrio defensivo. Ofensivamente alterna frequentemente o passe curto com o comprido (neste caso procurando fazer o aproveitamento dos espaços na zona defensiva adversária) e combinações à largura (procurando superioridade numérica nos corredores laterais). Valorize-se ainda a influência que Américo tem na organização e na gestão, no lançamento e na possibilidade de finalização.


A construção do seu jogo foi todavia tão descontínua como o do Paivense, que teve dificuldades em criar situações de finalização e em ser eficaz nos momentos de finalização, apesar das tentativas de construção. Os equilíbrios também assim determinaram.

Campeonato emotivo mas jogo previsível?

O atual Campeonato Safina pode pedir racionalidade nos processos de jogo, exigindo equilíbrio e articulação. Isto é, um sentido coletivo de jogo que ofusque a espetacularidade. Em Albergaria-a-Velha, o Bustelo voltou a ser uma equipa de posse (com bola) mas previsível e sem a objetividade necessária para ultrapassar um Alba que preenche e encurta bem os espaços, utilizando depois as transições rápidas, aproveitando as características diferenciadoras dos seus avançados.

A posse de bola pode ser um processo importante para controlar e dominar o jogo mas também precisa de criatividade (advém de atitude interior capaz de surpreender) e de profundidade (dinâmicas coletivas para provocar situações de rotura) para que o volume de jogo possa ser produtivo, materializando-se no resultado. E sempre alicerçado numa segurança defensiva que dê confiança a quem constrói.


Este é mais um desafio no atual equilíbrio e competitividade do Campeonato Safina: serão as equipas capazes de ir além da eficácia racional, não privilegiando apenas um modelo padronizado mas dando espaço ao talento desequilibrador?

Sabendo-se que a pressão excessiva com os resultados condiciona as decisões de quem decide em tempo real e interpreta ações em jogo, a menor perceção das decisões e até a perturbação motora na interpretação técnica, em cada um dos inúmeros momentos dinâmicos do jogo, dificultará o desejável equilíbrio entre a racionalidade e a espetacularidade.

Assim e certamente, teremos um campeonato emotivo mas um jogo mais previsível. Há, contudo, uma certeza evidenciada nestas 5 jornadas: equipas com riqueza organizacional e dinâmicas de jogo que, sem serem espetaculares, conferem competência a quem as concebe e operacionaliza.


Augusto Semedo
Treinador de futebol
13 de Outubro de 2016
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