Em Calvão conta a aprendizagem, não o resultado

O futebol tem, como essência, o golo. Essa é, pelo menos, a ideia instalada na maioria dos clubes, mas, na verdade, há sempre espaço para uma exceção. Em Aveiro, ela mora em Calvão, clube que tem na equipa de traquinas um dos casos raros do futebol moderno: aqui treina-se e joga-se pela aprendizagem e pelo desenvolvimento, não pelo resultado.

“Os meninos sabem, desde o primeiro dia em que começámos a trabalhar, que o grande objetivo é aprender, e não ganhar ou pontuar. A motivação deles está centrada para a aprendizagem”, explicam-nos Nuno Margarido e Fernando Oliveira, os treinadores da equipa, que garantem viver uma experiência “fantástica e, ao mesmo tempo, muito desafiante”.

De facto, o desafio é enorme, e os números não o escondem. Os traquinas do GD Calvão contam por derrotas os 16 jogos já realizados, e as dificuldades são muitas, principalmente pelo contexto em que se inserem. “Este é o maior desafio da minha carreira enquanto treinador, quer pela realidade e contexto em que estamos inseridos enquanto estrutura completamente amadora, quer pela realidade que encontrámos enquanto equipa, com meninos muito novos e sem qualquer conhecimento de futebol fundamentado a nível prático e teórico”, aponta Fernando Oliveira.

A ideia é reforçada por Nuno Margarido, que lembra as dificuldades causadas pela tenra idade dos seus atletas e a falta de bases de que dispõem. “Com a idade que têm, os nossos jogadores já deviam ter, no mínimo, um ano de treinos. Para além disso, alguns deles ainda são traquinas B, apesar de fazerem parte da equipa de traquinas A. Essa foi a primeira grande dificuldade que encontrámos no clube e no grupo, e que tentámos desde logo trabalhar”.

Ainda assim, desengane-se quem pensa que os resultados estão relacionados com um mau trabalho de jogadores e equipa técnica. O foco, em Calvão, reside na “evolução do grupo” e na luta contra as dificuldades dos atletas. “Tivemos, enquanto treinadores, que repensar metodologias de treino e ensino para garantir a resolução das dificuldades dos meninos, e explicar aos responsáveis do clube que esta é a metodologia certa”, observam os responsáveis, que recuperam alguns dos valores transmitidos ao grupo: “Houve jogos em que lhes sublinhámos que o resultado não importava, porque eles tinham cumprido com as metas estabelecidas para aquele momento. E é em cima dessa evolução que estamos a trabalhar, não olhando aos resultados, mas à apreensão de conhecimentos”.

 

O orgulho de um golo inédito

O trabalho, árduo e cada vez mais raro, acarreta consequências impensáveis para algumas mentes ligadas ao desporto. “Somos contra as biqueiradas e pontapés para a frente. Queremos uma equipa que pratique bom futebol, com método”, adverte Fernando Oliveira, que atesta a preparação do clube para o plano a seguir: “Temos o caminho bem traçado, passo a passo, tanto para a evolução do clube na sua organização e estrutura, como para a evolução destes meninos no desenvolvimento das suas capacidades físicas e humanas”. 

E, na verdade, a evolução já se vai notando. Apesar das derrotas e de ter sofrido mais de centena e meia de golos, os jovens atletas do GD Calvão apresentam “grandes índices de motivação para aprender em todos os treinos e jogos”, e viveram, no passado fim de semana, um momento inédito, que dificilmente esquecerão: conseguiram marcar pela primeira vez na presente temporada, numa jogada coletiva finalizada pelo pé esquerdo de Gonçalo Diniz. “Foi uma alegria enorme, não só pelo golo, mas pela forma como o conseguimos”, recordam os técnicos, que não escondem o “significado maior” de um momento que dá “mais confiança para acreditar no nosso trabalho e na nossa metodologia”.

Num panorama futebolístico que se centra muito no resultado, o que podemos esperar dos traquinas do GD Calvão? “O objetivo é dar continuidade à aprendizagem e à aquisição de valores humanos centrados na mística e no símbolo do clube”, revelam os treinadores, que recusam mudar a estratégia em função do resultado de cada jogo: “Continuaremos a passar diretrizes à coordenação/direção do clube para a implementação de medidas que elevem os patamares da instituição. Queremos ensinar e corrigir cada vez mais, com exercícios e metodologias que vão ao encontro das dificuldades destes meninos. Num tempo em que se dá demasiada importância ao resultado, nós nunca iremos focar-nos no ganhar ou pontuar, porque pensamos de forma diferente”, encerram.

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20 de Fevereiro de 2017
Pedro Fernandes
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